Os serviços de streaming de música tornaram os álbuns e artistas favoritos das pessoas mais acessíveis do que nunca. Embora preferir mídias físicas às digitais não seja uma tendência nova, a Geração Alpha e os jovens da Geração Z estão contribuindo para vendas recordes de discos de vinil nos Estados Unidos.

Mas o que os adolescentes acham tão cativante nos discos de vinil?

De acordo com a Associação Americana da Indústria de Gravação (RIAA), 43 milhões de discos de vinil foram adquiridos em 2023, superando as vendas de CDs pela segunda vez desde 1987. As vendas de discos de vinil também cresceram 10%, atingindo US$ 1,4 bilhão, marcando o 17º ano consecutivo de crescimento, e representaram 71% das vendas de receita de formatos físicos, ainda de acordo com a RIAA.

É diferente o cenário de CDs e cassetes. As vendas desses formatos ultrapassaram as de vinil pela primeira vez em 1988 e continuaram reinando como os formatos físicos preferidos para consumo de música nos anos 90 e 2000.

O suposto ressurgimento do vinil que, segundo algumas pessoas, nunca saiu de cena, também atraiu um grupo de colecionadores adolescentes mais jovem e cheio de energia. Eles compartilham suas coleções nas redes sociais e constroem uma comunidade com pessoas da mesma idade, que tem o mesmo interesse: procurar e vender prensagens de vinil raras.

Em vez de procurar por álbuns que foram lançados na época do vinil, os adolescentes estão focados em colecionar os lançamentos, especificamente aqueles lançados na última década.

De acordo com o relatório Year-End Music 2023, divulgado em janeiro deste ano, feito pela empresa de dados Luminate, o álbum 1989 (Taylor’s Version) de Taylor Swift foi o álbum de vinil mais vendido em todo o mundo em 2023, com 580.000 cópias vendidas somente nos Estados Unidos nos primeiros seis dias de lançamento. A artista lançou o álbum 1989 em 2014, e a versão mais recente, lançada em outubro de 2023, contém cinco faixas bônus.

Nicole Raney, gerente de comunicações da Discogs, uma comunidade online de colecionadores de discos para fãs de música, contou ao Yahoo Entertainment que cinco álbuns de Taylor Swift — dois dos quais são versões de cores diferentes do Midnights, de 2022 — também estão entre os discos mais colecionados da plataforma nos últimos quatro anos. Álbuns de Olivia Rodrigo, Billie Eilish, Dua Lipa e Phoebe Bridgers também são famosos por lá, segundo Raney.

Os adolescentes não são os únicos que gostam de Taylor Swift, mas ela é uma, de muitos artistas, que são mais conhecidos entre a geração mais jovem e os colecionadores no Discogs, indicando uma forte sobreposição“, diz Raney ao Yahoo Entertainment.

“É tão legal como pequenas ranhuras em um disco podem fazer música.”

Para Juniper Shrub, de 18 anos, colecionar discos de vinil representa uma alternativa bem-vinda para o quão digital o mundo se tornou. “Quase todos os aspectos” da vida desta adolescente de Dallas, “como música, escola, interação com amigos e até mesmo comunicação“, acontecem online, nos dias de hoje, ela revelou ao Yahoo Entertainment.

@shrubjuniper my vinyl collection!!! there r so many i still wanttttt😁😁#vinylcollection ♬ original sound – juniper

Eu amo colecionar discos de vinil porque eles oferecem muitos aspectos adicionais, além do próprio vinil. Existem versões com diferentes cores para os meus álbuns favoritos, além de discos com imagens e autógrafos. Amo pensar sobre as complexidades do vinil, pois é surpreendente como pequenas ranhuras em um disco podem fazer música“, disse Shrub, que começou a colecionar vinil há dois anos. Entre os favoritos da sua coleção, está o álbum Good Riddance Acoustic Shows, de Gracie Abrams e Aaron Dessner.

De certa forma, os discos de vinil guardam boas lembranças para mim. Seria tão divertido mostrar para minha família ou amigos no futuro… quem eu ouvia quando tinha 18 anos“, disse ela.

Brooke Wahlenberg, de Minnesota, nos Estados Unidos, tem 18 anos e é membro do grupo Young Vinyl Collectors no Facebook. Assim como Shrub, Wahlenberg foi atraída pela tangibilidade dos discos de vinil. As suas redes sociais também estavam cheias de conteúdo relacionado a vinil, o que concretizou a sua decisão de comprar um toca-discos.

Comecei a colecionar por volta dos 15 anos, quando consegui o meu primeiro emprego e também o meu primeiro iPhone, então, pela primeira vez, fiquei conectada às redes sociais. Logo vi vinis no feed e achei todas as diferentes prensagens tão interessantes“, contou ela ao Yahoo Entertainment.

Enquanto o lançamento de várias versões de vinil atraía colecionadores, o álbum mais desejado de Wahlenberg é a edição limitada em forma de coração do Lover: Live In Paris, de Taylor Swift, lançada em fevereiro de 2023.

Essa prática tem sido criticada por alguns artistas por ser vista como desperdício. Billie Eilish contou à Billboard , em uma entrevista recente, que “alguns dos maiores artistas do mundo estão fazendo 40 embalagens de vinil diferentes que têm uma coisa diferente e única só para fazer você continuar comprando mais.” Ainda assim, esses lançamentos “especiais” continuam atraindo jovens colecionadores.

Dentro de cada vinil, há um olhar interessante para aquele álbum e o estilo do artista com toda a arte que o acompanha. Para mim, parece mais imersivo“, disse Wahlenberg.

Jenn D’Eugenio, fundadora da Women in Vinyl, uma organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar mulheres, pessoas que se identificam como mulheres e minorias marginalizadas na indústria do vinil, contou ao Yahoo Entertainment que o novo interesse pelo vinil também levou ao lançamento de álbuns que anteriormente não estavam disponíveis nesse formato durante o boom dos CDs.

Por exemplo, a loja Urban Outfitters já lançou em vinil trilhas sonoras exclusivas de filmes como The Virgin Suicides, de 1999, e The Lizzie McGuire Movie, de 2003.

Estou adorando comprar cópias de discos que eu só tinha em CD ou cassete nos anos 90, agora em vinil”, disse D’Eugenio. “Acho que muito disso é nostalgia, com certeza, mas também a oportunidade de revitalizar e criar uma nova base de fãs com compradores de vinil e fãs de música, já que muitos títulos estão chegando às edições de 20 e 30 anos.”

Identidade e cultura de fãs

Para muitos adolescentes, colecionar vinil é uma oportunidade de demonstrar apreciação a um artista específico e sua base de fãs, de acordo com Daniel Cook, proprietário da loja de discos Gimme Gimme Records em Los Angeles. Para eles, é também uma forma de construírem sua identidade.

Acredito que muitas pessoas, especialmente os adolescentes, constroem, pelo menos, parcialmente sua identidade em torno do gosto musical. Quando eu estava crescendo, era tipo, ‘Ah, você curte metal? Ou você é do punk?’ ou qualquer outra coisa assim. A música pela qual você se interessa é muito importante“, disse Cook. “Então, ter esse objeto que você pode segurar serve para, meio que, provar a si mesmo e aos seus amigos que você é um fã — que você gastou dinheiro e pode olhar para a capa do álbum e interagir com ela.”

Raney acrescentou: “Embora a qualidade e a estética do vinil sejam grandes motivadores, descobrimos que os colecionadores mais jovens estão muito nisso por causa de fandom que participam. Eles estão colecionando discos de seu artista favorito, independentemente de terem um toca-discos.”

Ouvir álbum em vinil, também é uma atividade mais social do que o streaming, conta Cook. “Você coloca o disco, escolhe uma música, vira o lado, convida seus amigos. Torna-se mais uma coisa social“, disse ele.

Jim Henderson, co-proprietário da Amoeba Music, a maior loja independente de discos, disse ao Yahoo Entertainment que o vinil também dá aos adolescentes a oportunidade de experimentar a música da maneira como o artista pretendia.

A maioria dos adolescentes, embora certamente não todos, têm vivido com uma falta de engajamento tátil, e os discos de vinil são o auge disso, pois não são apenas impactantes em sua aparência, mas extremamente funcionais e a grande recompensa: disco conectam você aos seus heróis musicais“, disse ele. “A arte tem um formato grande, com cores vibrantes, letras, notas de encarte… tudo da maneira como o artista pretendia que fosse interpretado“, em vez da miniatura de uma imagem em uma tela de celular de 4 polegadas.

Uma conexão entre gerações

Para alguns colecionadores adolescentes, o interesse pelo vinil é mais simples e pessoal.

Tenho pais que estão na casa dos 50 anos, então ouvir alguns dos meus discos com eles trará de volta memórias e ajudará a fortalecer o vínculo que temos agora“, disse Priscilla Jett Sinclair, de 18 anos, que mora em Nova York, ao Yahoo Entertainment. Ela também é membro do grupo de colecionadores Young Vinyl Collectors no Facebook.

Segundo D’Eugenio, apenas isso explica a persistência da paixão por colecionar vinil, independentemente da idade.

Muitas pessoas da minha idade estão tendo filhos ou têm filhos que agora são adolescentes“, disse ela. “Crescemos com a nostalgia dos discos de vinil nossos pais, então, à medida que muitos de nós colecionamos ou começamos a colecionar vinil, estamos criando essa mesma nostalgia para esta próxima geração.”

Esta é uma tradução feita pelo Conexão Pop do artigo Teens love vinyl. They tell us why, do Yahoo Entertaintment.

28 anos, moro no rio de janeiro e provavelmente estou na praia ouvindo alguma playlist de verão.