Roberta Medina, vice-presidente da companhia, filha do fundador Roberto Medina contou à EXAME que “Ser” e “fazer” um mundo melhor são verbos que guaim as frentes de sustentabilidade do evento. A Rock World, empresa controladora da Rock in Rio, está focada em tornar o festival um modelo de atuação sustentável, para servir de exemplo a toda indústria.
Segundo Medina, o “Ser” é o mais importante, o propósito, a forma de se estar no mundo, uma verdade interna genuína. Já o “fazer”, é sobre o que extrapola os sete dias de evento: as ações sociais e ambientais que realizam e apoiam, como plantar árvores ou ajudar no desenvolvimento das favelas brasileiras.
“Tudo que fizemos até hoje não tem uma legislação que obrigue. Foi por iniciativa própria e entendendo que isso faz a marca mais forte e torna a empresa financeiramente mais saudável também. Buscamos mostrar isso como exemplo para o mercado”, destacou Roberta Medina, vice-presidente da Rock World.
“Para falarmos de sustentabilidade desde o início, entendemos que precisávamos agir e foi então que começou o nosso apoio financeiro a causas sociais. O pilar econômico e o “S” estão desde a largada da criação do festival, na sua razão de ser”, explicou Medina. Em 2006, o Rock in Rio se tornou neutro em carbono, em um momento que o mundo ainda começava a tratar mais sobre mudanças climáticas.
Rock World apoia projetos diferentes a cada edição
“Tudo que fizemos de sustentabilidade até hoje não tem uma legislação que obrigue. Foi por iniciativa própria e entendendo que isso faz a marca mais forte e torna a empresa financeiramente mais saudável. Buscamos mostrar isso como exemplo para o mercado”, conta Medina.
De 2016 a 2019, a Rock World apoiou ações a favor da preservação da Amazônia e, em 2017, lançaram o “Espaço Favela” dentro da Cidade do Rock, para enfrentar as crises de violência no Rio de Janeiro. “Foi o momento em que decidimos colocar luz naquilo que tem de bom nas favelas”, destacou Medina.
Em 2021, a empresa compartilhou metas ESG para 2030 e lançou seu primeiro relatório com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, e que atende às normas ISO 20121, uma certificação internacional voluntária para gestão sustentável de eventos, criada pela International Organization for Standardization.
“Antes do ISO, era como um movimento ativista interno. Íamos conquistando um de cada vez e o pilar ambiental talvez seja o mais difícil e com maior resistência, enquanto o social é mais fácil. Com a certificação, isso acabou. Tivemos de entrar em auditoria, documentar e abraçar os compromissos”, disse Medina.
Agenda sustentável da Rock World em 2024
Este ano, os focos serão três: no curto prazo, o combate à fome, em parceria com a Ação da Cidadania, que doará 1,5 milhão de pratos de comida, em um primeiro momento, direcionados para o sul do país em razão das enchentes.
No médio prazo, há algumas iniciativas, com destaque para o Favela 3D, que visa transformar a vida de mais de 250 famílias do Morro da Providência, na região carioca do Burraco e Sessenta. O projeto, lançado em 2023, já recebeu investimentos de 7,5 milhões de reais e visa a capacitação e a empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade.
No longo prazo, está a emergência climática. “Percebemos que todo o resto não dá conta se não atuarmos no tema do clima. O que fazemos é cuidar de como o próprio Rock in Rio é feito, com buscas constantes de soluções para minimizar as emissões e aumentar a eficiência, com o objetivo de influenciar a indústria e provocar a cadeia produtiva”, complementou.
Copo reutilizável no Rock in Rio 2024
Na edição deste ano, que contará com sete palcos, mais de 750 artistas, 500 horas de experiências durante sete dias, garantir a sustentabilidade é peça-chave. Uma das grandes metas do Rock in Rio é ser lixo zero e em 2024, um dos avanços é a utilização do copo reutilizável, de suma importância na geração de resíduos.
O copo foi usado pela primeira vez no Brasil no festival The Town em 2023 e a expectativa é que, neste ano, se passe de 81% de reciclagem para 93%. Assim, evitando que os resíduos parem no aterro.
“O copo já vinha sendo usado em alguns países. Mas quando a gente quis trazer para o Rock in Rio, a Anvisa não deixava. Depois, os operadores estavam desconfortáveis. E em seguida houve questionamentos sobre a qualidade do material e a variedade de bebidas. Eram vários entraves. Foi só na COP do ano passado que o jogo virou”, explica Medina.
Segundo Medina, a ideia é incentivar o consumidor a utilizá-lo ao comprar a segunda bebida, e se caso quiser trocá-lo por um ano, ele volta para a operação. Na edição de Lisboa, Portugal, o evento adotou o copo já em 2018. “Na Europa, as entidades são obrigadas a operar de determinada forma na reciclagem, de acordo com legislação. Há entidades obrigadas a fazer esse trabalho. No Brasil, só acontece graças aos catadores. Temos de avançar muito”, explica Medina.
Além disso, Medina informa que o consumo de energia para a rede, que bateu 65% ligada à matriz energética do Brasil, predominantemente renovável. “Ainda estamos tentando que eles abasteçam e garantam energia verde, mas como a cidade do Rock conta com um terreno da prefeitura, há alguns entraves”, disse. A Neoenergia instalará 43 postes alimentados a painéis fotovoltaicos.
Todos os credenciados que entram na cidade do Rock, sendo mais de 25 mil, também passam por uma formação em sustentabilidade. “A ideia é espalhar conhecimento para mudar a própria cadeia”. Além disso, todos os stakeholders, parceiros e mais de 92 patrocinadores precisam estar alinhados e de acordo com as normas ambientais, sociais e de governança da certificação ISO.
“É bonito de ver. Quem olhar para o estande de ativação das marcas durante o evento, vai ver que quase todas estão falando de algum impacto socioambiental. É um território onde elas passam a se sentir confortáveis, de falar desses temas – porque é coerente”, disse.
A executiva destaca as ações de Itaú e Doritos em diversidade, a doação do aço 100% reciclável do palco pela Gerdau, a parceria com a Gerando Falcões, Gerdau Volkswagen, Yuool no projeto Favela 3D e a Heineken com o ‘Green Your City’.
O foco do Rock World está nas pessoas
Nos últimos anos, a Rock World tem focado nas pessoas, com diversos parceiros plurais e investimentos em acessibilidade e inclusão. Entre os parceiros deste ano que trabalham a diversidade, estão o Instituto Glória, ID-BR, Livre de Assédio, Casa Brasil, Grupo Conexão G e Pró Medula. Pela primeira vez, o evento também abre as portas para a “Babilonia Feira Hype” e reúne cerca de 100 marcas e empreendedores visando estimular o comércio local.
Para Medina, a Rock World tem conseguido avançar mais em governança. A executiva diz que o festival está comprometido com a melhoria contínua e em buscar soluções a cada ano. Por fim, ela cita o poder da juventude:
“Os jovens têm tudo para ser melhores que nós nessa missão. Eu desejo que essa noção concreta de interdependência vá ficando cada vez mais clara e que cada um assuma seu papel no mundo. Essa geração não tem apego ao modelo passado. E, por isso, pode evoluir mais rápido. Pode ser extremamente tola ou extremamente sábia, a vantagem é estar sendo impactada com a conversa do coletivo mais rápido”, finalizou Medina.