Em agosto do ano passado, Gilberto Gil, 82, anunciou que faria sua última turnê. “Tempo Rei”, portanto, marca sua despedida dos palcos. É de uma magnitude imensa conceber um espetáculo que faça jus a tudo que contemple a carreira do cantor – um dos maiores da música brasileira. Mais do que isso, que torne inesquecível a experiência dos fãs que irão ver seu ídolo de perto pela última vez.
Mas, “Tempo Rei” é um espetáculo. É difícil não ficar eufórico – e até mesmo emocionado – em diversos momentos da turnê de Gil. A abertura, já grandiosa, é com o sucesso “Palco”, que marcou gerações e até hoje é uma das músicas mais conhecidas do repertório do artista. É aquele hit atemporal, que pessoas de todas as idades amam e sabem a letra de cor. A plateia, aliás, tão enérgica, é uma das características da apresentação. Do começo ao fim, ouvia-se um coro apaixonado da diversa base de fãs do cantor.
Houve também muita emoção ao longo das mais de duas horas que compõem o show. Gilberto Gil exibiu um vídeo de Chico Buarque falando sobre a relação dos dois. Os artistas compuseram a música “Cálice”, um dos maiores hinos de resistência à ditadura militar no Brasil, que foi cantada por Gil logo após o depoimento do amigo. Durante a apresentação, foi exibido um painel com fotos de pessoas torturadas e mortas pelo regime, incluindo o engenheiro e político Rubens Paiva (1929-1971) e o jornalista Vladimir Herzog (1937-1975). Sem dúvidas, o momento mais forte da turnê.
Outro momento marcante da noite foi a homenagem de Gilberto Gil à sua filha, Preta Gil, com a canção “Drão”. A música, do álbum “Banda Um” (1982), é originalmente dedicada à Sandra Gadelha, mãe da cantora e ex-esposa de Gil.
Além disso, o repertório, que abarca a extensa discografia de Gilberto Gil, também guardou uma surpresa daquelas. Logo depois de cantar “Esotérico”, o artista recebeu uma presença ilustre. Se no show de sábado (5), a convidada especial foi a cantora Anitta, na apresentação de ontem foi a vez de Caetano Veloso subir ao palco em um momento que foi recebido com muita euforia pelo público. Aliás, o próprio Gil não conteve a emoção e foi às lágrimas por causa do amigo. Os dois cantaram “Super Homem, a Canção”, do álbum “Realce” (1979).
Àquela altura, o show já caminhava para o fim. Mas, o ato final da despedida de Gilberto Gil dos palcos passa longe da melancolia. Pelo contrário, é quando a apresentação adquire mais tons de efervescência. As músicas “Expresso 222”, “Emoriô”, “Aquele Abraço”, “Esperando na Janela” e “Toda Menina Baiana” foram cantadas a plenos pulmões não só pelo artista, mas por uma plateia que, mais do que nunca, esbanjava animação.
“Tempo Rei” é uma experiência inesquecível, que de forma alguma tem cara de “adeus”. É uma apresentação grandiosa que encerra um ciclo de um nome imortal da música brasileira.