Em um momento desafiador para os festivais independentes, a Feira Preta dá um passo importante para manter viva a chama da cultura afro-brasileira: acaba de firmar uma parceria com o WME – Women’s Music Event. A união entre os dois festivais, ambos liderados por mulheres, surge como resposta criativa e potente à instabilidade do cenário cultural, que vem enfrentando cortes de patrocínios e dificuldades de sustentabilidade.
Quem conta essa história é Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e uma das maiores referências da economia criativa preta no Brasil. Em entrevista ao Conexão Pop, Adriana relembrou com entusiasmo o momento em que a ideia da colaboração surgiu: “No ano passado, fui premiada no WME e comentei: ‘Imagina se a gente fizesse algo junto?’. Alguns meses depois, cá estamos, realizando juntas”, compartilhou.
A parceria prevê ativações durante o WME Festival 2025, que acontece em junho, com a Feira Preta ocupando a Praça Dom José Gaspar, no centro de São Paulo. O espaço será dedicado a empreendedoras criativas, com expositores de moda, gastronomia, design e cultura afro, além de uma apresentação especial do bloco feminino Ilú Obá de Min.
Escassez de patrocínios em festivais que celebra a cultura preta
Diante do cancelamento da edição paulistana da Feira Preta em maio, devido à falta de patrocínios, Adriana reforça a importância de pensar coletivamente: “As marcas ainda não entenderam que a cultura negra não é nicho — é maioria. A música brasileira é música negra. A continuidade dessa cena precisa ser responsabilidade de todos, inclusive do mercado.”
Ela destaca que a parceria com o WME nasceu justamente desse momento de incerteza: “Quando percebemos que não faríamos a edição da feira, surgiu a ideia de nos unirmos. Se a feira não pôde acontecer com o palco do WME, que o WME aconteça com o palco da Feira Preta.”
Feira Preta chega a Salvador pela 1ª vez
Além da parceria com o WME, a Feira Preta também prepara sua estreia em Salvador, entre os dias 28 e 30 de novembro. A edição inédita na capital baiana – que possui 80% da população preta – será marcada por uma imersão em moda, música, tecnologia e inovação, com empreendedores locais e convidados de diferentes regiões do país.
A movimentação faz parte de uma estratégia maior: o lançamento de uma coalizão de festivais liderados por pessoas negras, que deve reunir representantes do Sudeste, Nordeste e outras regiões. O objetivo é claro: disputar espaço no mercado, garantir visibilidade e provocar mudanças estruturais. “Estamos nos unindo para disputar narrativa e também recursos. É um movimento de resistência, mas, acima de tudo, de existência e potência”, reforça Adriana.
Compromisso que vai além do discurso
A empresária também elogiou o comprometimento do WME com a diversidade real, não apenas simbólica: “Não é só falar sobre diversidade. É viver. É tangibilizar. Desde a curadoria das premiadas até a programação, o WME tem uma preocupação genuína com recortes de raça e gênero. Essa parceria é construída com verdade.”
Ao final da conversa, Adriana compartilhou um conselho direto e acolhedor para outras mulheres negras que desejam atuar na economia criativa: “Não fique só. Estabeleça conexões, busque alianças. Parcerias podem ser de cuidado, de mentoria, financeiras, de fornecimento ou divulgação. Mulher cuida de mulher. A Feira buscou redes para continuar existindo. Façam o mesmo.”