A dualidade entre a sedução dos prazeres proibidos e a busca por uma libertação física e emocional fazem parte do repertório de referências da cantora e compositora paulistana Super Saffira. Ela lançou recentemente o seu novo single “Flecha Fatal” e convida seus seguidores para uma experiência dark pop, rock e eletrônica.
Super Saffira iniciou sua carreira artística com a dança e, por isso, faz questão que cada um de seus projetos tenha uma coreografia específica. Em “Flecha Fatal”, Jéssi Muller, dançarina e coreógrafa que já trabalhou com artistas como Pabllo Vittar e Thiago Pantaleão, é a responsável por comandar o balé e a produção da coreografia.
Batemos um papo sobre sua carreira, novidades que estão por vir e até mesmo a produção de “Flecha Fatal”, confira.
“Flecha Fatal” traz uma forte dualidade entre sedução e libertação. Como surgiu a inspiração para essa música e o que ela significa para você em termos pessoais e criativos?
Foi uma situação muito engraçada. Eu até comentei ontem nos meus Stories sobre isso. O beat da música já existia, criado por um amigo meu, que também é o produtor. Inicialmente, ele fazia parte de uma outra música, com outra voz e tudo mais. Quando ouvi esse beat pela primeira vez, senti que ele tinha que ser meu, mas, na época, ele já pertencia a outra banda, então segui em frente.
Porém, com o tempo, a banda não deu certo, e a música voltou para o meu amigo, que a havia criado. No fim das contas, a música acabou virando minha, então tudo se resolveu e deu certo no final.
Qual foi o maior desafio em traduzir esse tema tão denso e complexo em uma canção com influências de dark pop, rock e eletrônica?
Acho que o maior desafio foi traduzir sentimentos tão contraditórios de uma forma visceral, mas ainda assim acessível para quem ouve. O new dark pop e o rock eletrônico foram escolhas perfeitas para criar uma atmosfera que ressoasse com a intensidade dessa busca. A pegada da música se conectou muito bem com a mensagem que eu queria transmitir.
O videoclipe utiliza símbolos orientais, como máscaras japonesas e espadas. Qual o significado dessas escolhas visuais e como elas se conectam à mensagem da música?
Os símbolos orientais carregam uma energia ancestral, e eu quis explorar isso no meu projeto. As máscaras japonesas, por exemplo, representam as faces e camadas que usamos para nos proteger, enquanto as espadas simbolizam a luta interna entre a sedução e a necessidade de libertação. Eu quis trazer esses elementos para refletir essa batalha interna de uma maneira visualmente marcante e quase ritualística, criando um universo místico.
Uma das nossas principais referências foi o diretor Akira Kurosawa, além de inspirações vindas de clipes de K-pop e videogames, como Mortal Kombat. Eu me identifico muito com esse universo oriental, e ele permeia todo o meu trabalho.
A coreografia desempenha um papel importante em seus projetos, e em “Flecha Fatal” você trabalhou com a Jéssi Muller. Como foi esse processo criativo em relação à dança e ao conceito da música?
Trabalhar com a Jéssi foi uma super honra. Ela é muito sensível e, logo de cara, entendeu a essência da música, trazendo ideias inovadoras para a coreografia, que acrescentaram muito ao clipe. Eu geralmente trabalho com homens, então queria muito uma mulher para essa colaboração, especialmente para a parte de dança. Também queria mulheres dançando comigo, e a Jéssi foi perfeita para isso. Ela é extremamente profissional e criativa, além de muito sensitiva, como já mencionei.
Além disso, incorporamos a linguagem de Libras na coreografia, algo que eu faço questão de incluir em todos os meus clipes. Jéssi conseguiu integrar isso na dança de forma sutil e muito bonita. Foi uma experiência incrível, e eu amei trabalhar com ela.
Eu geralmente trabalho com muitos homens, e alguns deles são mais sensíveis, mas ainda assim, não são mulheres. Para mim, faz toda a diferença trabalhar com mulheres. Mesmo quando os homens com quem trabalho estão abertos a me ouvir, é uma dinâmica diferente. Mulher entende mulher, e isso é algo único. A presença da força feminina no clipe, especialmente considerando o que estou expressando, foi muito importante para mim.
Sobre a linguagem de Libras, eu sempre tento incluir esse elemento nos meus projetos. Acredito que Libras deveria ser ensinada nas escolas e que todos deveriam aprender. Seria ótimo se fosse uma linguagem universal. Inclusive, estou aprendendo agora também, porque acho essa inclusão muito importante.
Você fala sobre a busca por prazer momentâneo e o perigo de se perder nessa adrenalina. Como você equilibra, na sua vida pessoal, esse desejo de liberdade e a necessidade de controle?
A necessidade de controle é justamente o que desperta a busca por prazeres. Quando tentamos controlar tudo, acabamos criando rotas de fuga que se tornam viciantes. A busca pelo controle, no fundo, é uma ilusão. Entender que não estamos no controle de tudo é onde encontramos a verdadeira liberdade. Isso não significa que devemos ter uma postura passiva, mas sim aceitar a vida como ela é e o fluxo natural das coisas. Não é fácil, claro, mas quando aceitamos que a vida é impermanente e que as nossas tentativas de controle só geram mais conflitos, começamos a viver em harmonia.
O prazer, por mais intenso que seja, é transitório. A mente busca repetições, criando dependências e um ciclo sem fim. Acho que o verdadeiro equilíbrio vem de observar os nossos impulsos sem julgamento, apenas reconhecendo como eles surgem em nós. Por exemplo, quando eu sinto vontade de comer chocolate do nada, já percebi que muitas vezes isso acontece quando estou procrastinando ou evitando algo difícil. Ao enxergar isso, percebo que nem preciso do chocolate de verdade. Mas, quando estou no automático e não me dou conta, acabo comendo demais e depois me arrependo.
Estar presente e se observar é essencial para entender que a busca pelo prazer muitas vezes é uma reação. Na teoria, isso parece simples, mas na prática é um desafio. O que me ajuda a ficar presente é ler um livro, ouvir música, encontrar um momento de paz na natureza, brincar com meus bichinhos ou simplesmente sair do celular. Acho que isso é o mais importante.
O que você pode contar pra gente sobre os próximos projetos? Vem mais alguma coisa por aí? Ou para 2025?
Com certeza, vou lançar mais conteúdos em breve. Ainda este ano, vou lançar o remix de “Flecha Fatal”, e no ano que vem, vou lançar mais alguns singles. Estou preparando um super lançamento de um álbum que virá com uma história bem especial. Na verdade, estamos criando um universo que contará com três versões do álbum: punk rock, pop eletrônico e acústico — os três gêneros musicais com os quais mais me identifico.
Além disso, vamos lançar um game, 12 mangás e uma websérie de 12 episódios. Será uma jornada completa, onde vamos explorar todos esses temas de maneira mais profunda.