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ENTREVISTA: Adonai, do Cidade Verde Sounds fala sobre os 10 anos de “Missão de Paz” e revisita a trajetória do duo

Por trás do brilho de um DVD comemorativo, há histórias de superação, amizade e a força de uma missão que não para. Foi assim que o Cidade Verde Sounds, liderado por Adonai e Dub Mastor, celebrou 10 anos de “Missão de Paz”, um dos álbuns que mudou a cara do reggae no Brasil. Gravado na Audio, em São Paulo, o show reuniu parceiros de longa data, faixas que marcaram uma geração e, claro, novidades para mostrar que a banda não vive só de passado — ela continua a escrever sua história.

O projeto trouxe participações de peso como Planta e Raiz, Rael, Marina Peralta, Fábio Brazza e até o funkeiro MC Kako, que se junta à banda na inédita “O Tempo Não Para”. Com direção de Mateus Rigola e produção de Daniel Ganjaman, o DVD entrega 18 faixas, misturando clássicos do grupo com novas composições, e mostra que o Cidade Verde sabe respeitar suas raízes enquanto renova sua essência.

Para Adonai, a energia desse trabalho vem da conexão com quem vive a música de verdade: “Essa é uma missão contínua, sabe? Não para. Estamos há 10 anos falando de luta, de vida real, de conquistas, mas também de festa e celebração. E isso é o Cidade Verde: acompanhar quem está no corre, no busão, no metrô, indo trampar. A música que faz diferença na vida de quem ouve.” Batemos um papo com o duo sobre os 15 anos de carreira e o projeto.

O DVD “10 Anos de Missão de Paz” celebra uma década de trajetória. Qual é o principal legado que o Cidade Verde Sounds espera transmitir com esse lançamento?

Cara, eu sinto que o Cidade Verde tem uma trajetória muito bonita dentro de uma cena underground, sabe? A gente já tocou nos maiores festivais do Brasil, e com certeza temos uma base enorme de fãs que nos acompanham há muitos anos. Mas eu sentia que precisávamos dar um passo além. E acho que esse DVD foi uma forma de mostrar isso.

A ideia foi mostrar a força que o Cidade Verde tem, com vídeos e colaborações de pessoas que admiramos e com quem já trabalhamos há muito tempo, mas ainda não tínhamos gravado algo juntos. Um exemplo é o Rael, ou até o Planta, com quem estamos sempre nos bastidores e camarins. Foi como um presente para o público que nos acompanha ao longo desses 10 anos.

Ao mesmo tempo, esse DVD é uma prova do sucesso que o Cidade Verde sempre teve no cenário, mesmo de forma mais discreta, no “background” da cena musical. Com isso, queríamos trazer essa força para frente, para elevar o grupo a um novo patamar.

Imagem: Reprodução

O projeto reúne artistas de diferentes gêneros, como Marina Peralta, MC Kako, Planta e Raiz, e Rael. Como foi o processo de escolha desses parceiros e como cada um deles agregou ao projeto?

Todos os convidados tiveram uma importância grande e nenhum foi escolhido por acaso. O Kako, por exemplo, é um parceiro de Maringá, como eu. Apesar de estar no funk e nós no reggae e rap, falamos da mesma vivência: rua, família e consciência, temas que conectam nossos estilos. Já tínhamos uma amizade, e o convite para o DVD foi natural. O Planta e Raiz é uma referência no reggae nacional. Sempre estamos juntos nos bastidores, e eles conseguem dialogar com o reggae roots e o pop sem perder a essência, algo que também buscamos.

A Marina é uma grande amiga. Acompanhamos o surgimento da carreira dela e admiramos o conteúdo forte das letras e a postura artística dela. O Braion, com quem já trabalhei, é um dos maiores letristas do Brasil. E o Rael é simplesmente incrível, transitando entre reggae, rap e outros estilos com maestria. Cada participação foi escolhida com muito carinho e um significado especial para nós.

A música “O Tempo Não Para”, com MC Kako, é apontada como um ponto alto do DVD. O que torna essa faixa tão especial para a banda e como ela reflete os valores do Cidade Verde Sounds?

Cara, eu acho que essa música tem a essência do Cidade Verde. Se você acompanhar nosso trabalho, percebe que falamos de festa, rolê, maconha, mas boa parte do nosso discurso está na correria do dia a dia, na luta por um lugar ao sol. Sinto que nossas músicas são muito ouvidas por quem está no busão, no metrô, indo trampar.

Muitas pessoas já me disseram: “Sua música me tirou da depressão”, “me fez parar de usar droga”, ou “me ajudou a levar a vida de outra forma”. Essa essência de luta, de vida real, é o que define o Cidade Verde. Essa música em particular fala disso: a busca por um lugar ao sol e sobre como o tempo não para. A pergunta “o que você leva na mala?” reflete sobre o que cada um carrega na jornada. O mundo não espera ninguém. Ou você faz acontecer ou dorme no ponto.

Olhando para a evolução do Cidade Verde Sounds desde 2008 até hoje, como vocês veem a influência do grupo no cenário reggae brasileiro?

Acho que o Cidade Verde mudou o cenário do reggae nacional, e dificilmente alguém pode dizer que isso é exagero. Quando surgimos e começamos a aparecer de fato na cena, ali por volta de 2012 e 2013, e especialmente em 2014 com o álbum Missão de Paz, trouxemos algo diferente. Naquela época, não era comum ver bandas de reggae gravando com rappers ou misturando beats eletrônicos com reggae.

Estilos como dancehall e ragga já existiam no Brasil, mas estavam muito à margem, fora das grandes bandas como Planta e Raiz, Ponto de Equilíbrio, Natiruts ou Mato Seco, que não utilizavam esses recursos. Quando o Cidade Verde entrou nesse cenário mais amplo, gravando com artistas como Oriente e Haikaiss, sentimos que isso abriu a cabeça do público e até das próprias bandas.

Assim como fomos influenciados por nomes como Edson Gomes, Cidade Negra, Tribo de Jah, Natiruts e outros, acredito que também acabamos influenciando a cena de volta. Hoje vemos bandas e artistas mais novos no reggae nacional incorporando elementos que o Cidade Verde ajudou a popularizar. Pode não ser algo explícito, mas está lá. Isso mostra a força da nossa identidade.

Adonai comentou que o DVD foi produzido “sem gravadora, só na raça”. Quais foram os maiores desafios dessa produção independente e como vocês superaram?

Cara, acho que o maior desafio para o artista independente é a grana. Fazer algo de qualidade geralmente custa caro, e sem uma gravadora por trás, você precisa acreditar muito. É tirar dinheiro do bolso, dos shows, de coisas que você poderia usar para outras prioridades e investir na carreira. Esse foi, sem dúvida, um dos nossos maiores desafios.

Por outro lado, tivemos a sorte de contar com grandes amigos nessa caminhada. O Daniel Ganjaman, por exemplo, é um dos maiores produtores e arranjadores da música urbana nacional. Sempre foi próximo da banda, e desde o início falávamos: “Quando fizermos o primeiro DVD, tem que ser com você.” Ele abraçou o projeto e fez de tudo para que desse certo.

Outro parceiro foi o Mateus Rigola, responsável pelo audiovisual. Ele já trabalha com nomes grandes como Hungria, Costa Gold e Caco, mas tratou nosso projeto como se fosse dele.

Tivemos que enfrentar desafios, como a luta financeira e a dificuldade de vender ingressos hoje em dia — não é fácil colocar 2 ou 3 mil pessoas no show de uma banda independente. Mas também tivemos a sorte de ter essas parcerias incríveis, que foram fundamentais para fazer tudo acontecer.

Após esse marco de 10 anos, o que podemos esperar do Cidade Verde Sounds? Há novos projetos ou colaborações no horizonte?

Sim, já começamos a turnê de 10 anos de Missão de Paz e temos feito alguns shows. Também temos músicas novas gravadas, incluindo uma colaboração com um grande artista da Jamaica que será lançada em breve.

A ideia é continuar com esse show no ano que vem, mantendo a nova cara que trouxemos para o espetáculo do Cidade Verde. Além disso, vamos gravar novos singles e vídeos, sempre trabalhando sem parar. É uma missão contínua — 11 anos, 12 anos, e assim por diante.

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